Solidão, uma forma positiva do
existir
(Vilma Rodrigues)
Nada mais prazeroso do
que poder usufruir sozinho e silenciosamente a beleza encerrada
numa montanha, de uma noite de lua cheia, ou então tentar buscar
na linha do horizonte aquilo que está perdido, mas q não sabemos
o que é, e ficamos ali, estáticos, numa hipnose plena, vagando
na beleza natural.
Aos olhos dos outros, atitudes
como estas podem representar tristeza, angústia, e o óbvio:
solidão. Solidão é uma palavra temida em nossos tempos. Para
muitos é sinal de desespero, dor, abandono, e por assim pensar,
não deveria existir. O homem moderno tem, cada vez mais,
procurado meios para não entrar em contato com essa realidade;
então ele liga o rádio, a televisão, o computador... Pode até
não prestar atenção, mas quer este fundo sonoro que o
tranqüiliza. Essa luta desacerbada contra a solidão tem
impossibilitado ao homem o contato consigo mesmo; em meios a
tantos barulhos é impossível ver-se face a face.
Não gosto da solidão, aquela
entendida como isolamento, aquela que teme outros seres. Gosto
da solidão existencial, que aflora quando mal começamos uma
verdadeira consciência de nós mesmos, daquele nosso ego que
existe em nós e que ora nos parece tão perto, ora tão distante.
Dostoievski, considerava a
solidão como uma exigência normal e necessária como a bebida e a
comida. Adoro estas vozes ilustres, que nos falam de coisas até
então ameaçadoras ao bem existir, como algo benéfico e natural
ao ser humano. Acredito, que todo homem em algum momento da
vida, fica a observar o mar, fixa-se na linha do horizonte, ou
senta-se solitariamente a sombra de uma montanha, e são nesses
momentos tão suaves e deliciosos, que ele está enfrentando a sua
solidão. Pensa nas suas escolhas a fazer, e na hora de escolher,
nada, nem ninguém lhe serve de parâmetro. A decisão
compromissada é o momento obrigatório da solidão, ela é
indispensável antes da verdadeira conversão de rota.
Fiz algumas descobertas, e
quero dividi-las, como forma de tranqüilizar aqueles que estão
na busca de si mesmo. O homem ao fugir da solidão, foge de si
mesmo e não se possuindo, torna-se vulnerável, incapaz de
tornar-se pessoa, crescer e se auto-realizar. A compreensão de
si mesmo é o começo do fim da solidão; pois ao encontrar-se já
não está totalmente só, tem a si mesmo. Vejam que descoberta
maravilhosa. Esse encontro pode possibilitar uma experiência
positiva com a solidão e levá-lo a percebe-la como parte de sua
natureza, como necessária ao seu processo de desenvolvimento e
do existir humano.
É bom descobrir, que a solidão
a partir dos existencialistas ganhou uma nova dimensão, passou a
ser vista como sendo inerente à condição humana. Eis aí a grande
sacada, o homem que, por natureza ou destino está a sós consigo
mesmo e sua problemática, é que consegue nessa solidão vazia, no
encontro consigo próprio, descobrir-se e entender-se.
Eu suspiro longamente agora,
pois estou comigo mesma neste momento, mergulhada na minha
própria dimensão de auto-conhecimento. Já admirei muitas
montanhas silenciosamente, sei do que gosto e quero, sinto que
preciso saber mais e mais; e finalizo com as idéias do padre
Charbonneau: "perde-se a si mesmo quem perde sua solidão, pois
estará na impossibilidade de praticar a sabedoria."
Desejo paz à sua solidão...
Enamore-se ao luar, e goze à sua existência, e comemore a
descoberta de ser dono de si mesmo e de existir. Aí sim, a
solidão tornar-se-á uma conquista preciosa.
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